O desenvolvimento clínico de biossimilares e medicamentos biológicos originadores possui diferenças bastante importantes. No caso dos originadores, os investimentos em pesquisas in vitro e físico-químicas têm menor custo comparados aos estudos de fase 3, onde o medicamento é testado em pacientes selecionados. O custo total do desenvolvimento de um medicamento biológico é entre 1-2,250 bilhões de dólares.¹
No caso dos biossimilares, a maior parte dos estudos durante o desenvolvimento ocorre através de comparações analíticas e pré-clínicas, que objetivam comparar o biológico proposto com o biológico originador. Como resultado, o custo de desenvolvimento de um biossimilar é estimado em cerca de 250 milhões de dólares – menos de um quarto do desenvolvimento de um medicamento biológico originador.¹
No início do processo para a criação dos biossimilares, a estrutura molecular e a sequência de aminoácidos são identificadas e usadas como parâmetro. Este é um processo bastante complexo, pois os produtos biológicos são produzidos em cultura celular, onde uma célula é modificada para produzir proteínas recombinantes que dão origem aos biofármacos.²
Durante o processo, múltiplos testes de comparação entre o biossimilar e o medicamento biológico originador devem ser feitos para que se possa comprovar a biossimilaridade.2-4
Figura 1: Desenvolvimento de Biofármacos
Fonte: Adaptado de Martin, 2015.
As agências regulatórias, como a Anvisa, no Brasil, e o FDA (Food and Drug Administration), nos EUA, exigem a comprovação de equivalência comparativa através de testes e estudos específicos, para a aprovação dos biossimilares; do ponto de vista de estrutura, atividade biológica e pureza, exige-se que o biossimilar seja “altamente similar” em relação ao medicamento originador. No estudo clínico de equivalência, os desfechos de resposta clínica devem estar dentro da margem de equivalência especificada. Caso não estejam, o biossimilar não é considerado equivalente ao medicamento biológico originador, o que resulta na reprovação.5,6
Estudos não clínicos
Os estudos não clínicos devem ser realizados antes dos ensaios clínicos em humanos. Nesta fase, estudos in vitro (ou seja, análises físico-químicas e laboratoriais) e in vivo (em animais) são realizados para avaliar a semelhança entre o biossimilar proposto e o medicamento originador quanto ao seu mecanismo de ação, sua atividade funcional e seus atributos de qualidade.4,5,7,8
Estudos clínicos
Os estudos clínicos são feitos em humanos e são responsáveis por fornecer mais informações sobre fatores importantes para a aprovação de um biossimilar.2 São eles:
– Estudos farmacocinéticos: necessários para comparar a biodisponibilidade entre o biossimilar proposto e o biológico originador, quanto ao caminho que esta percorre no organismo do paciente, sua absorção, distribuição, metabolismo e eliminação;4,5,7,8
– Estudos farmacodinâmicos: responsáveis por garantir que o medicamento proposto tenha eficácia no tecido alvo equivalente ao originador, bem como mecanismo de ação idênticos;4,5,7,8
– Estudos de eficácia: nesta fase, deve-se analisar se existe alguma diferença significativa entre o produto originador e o biossimilar quanto a sua eficácia no tratamento;4,5,9
– Segurança clínica (analisada em conjunto nos estudos de eficácia): analisam-se as reações adversas e os eventos ocorridos no uso do medicamento. É importante que seja feita a comparação dos tipos, gravidades e frequências dos eventos adversos entre o biossimilar e o medicamento biológico originador, para garantir a similaridade;4,8,9
– Extrapolação de eficácia e segurança de uma indicação para outra: caso o biológico originador tenha mais de uma indicação terapêutica, podem ser solicitadas a aprovação dessas outras indicações para o biossimilar, sem a necessidade de novos estudos clínicos. Para isso, é necessário que o biossimilar apresente características físico-químicas e farmacodinâmicas similares, as indicações apresentem mesmos alvos terapêuticos e mecanismos de ação, e a eficácia, a segurança do uso e a imunogenicidade estejam bem caracterizadas;8,9
– Farmacovigilância: a segurança clínica dos biossimilares deve ser monitorada de forma permanente, para que a eficácia e qualidade do produto sejam garantidas.8,9
Referências Bibliográficas
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